Vou postar aqui uma matéria muito interessante sobre daltonismo que li hoje aqui, a matéria é da Alessandra Alves:
"A recente implantação de políticas públicas de acessibilidade no país
tem tornado menos difícil a vida daqueles que não podem ver, ouvir,
falar ou andar. Neste quadro, uma parcela significativa da população
parece, ainda, ser ignorada. Visto menos como deficiência e mais como
condição, o daltonismo atinge cerca de 8% da população mundial, sendo a
maioria homens. Quem tem o problema, lida constantemente com a
dificuldade em distinguir as cores do semáforo, o embaraço na hora de
escolher um assento no cinema, no ônibus ou avião, se atrapalha ao
preencher formulários online (que destacam campos em vermelho) ou ao
optar por qualquer coisa que tenha cor. E, apesar da maioria dos
problemas indicarem uma solução simples, não existe ainda nenhum tipo de
ação pública com objetivo de facilitar a vida dos daltônicos.
Em
2013, a senadora Ana Amélia (PP-RS) propôs um projeto de lei que
estabelece formatos diferentes para os focos luminosos dos semáforos. Se
aprovado, a luz vermelha dos sinais terá o formato quadrado, a amarela
triangular e a verde circular. O que poderia ser uma boa notícia para os
portadores da condição é, na realidade, um desalento. O projeto da
senadora é muito parecido com outro, proposto em 2009 pelo então
deputado Fernando Gabeira, que acabou arquivado. Mas as dificuldades do
daltônico vão além da distinção das cores do semáforo. Muitas vezes, a
discromatopsia influencia diretamente a profissão e a rotina do
portador. É o caso do enfermeiro Filipe Lopes, de 30 anos, que teve que
se adaptar ao seu modo à condição.
Filipe descobriu o daltonismo quando tinha cerca de 6 anos e, na escola,
coloria as árvores de laranja e a grama de vermelho. “Lembro-me também
da primeira vez em que viajei sozinho. Tinha uns 17, comprei uma camisa
azul e era rosa, uma cinza e era rosa, uma rosa e achei que era cinza”,
conta, rindo. Para essas situações ele acha graça, como no dia em que
escolheu um cortador de unhas para o filho, Mauro, recém-nascido, e
comprou rosa achando que era azul. O quadro muda quando o assunto é
trabalho. Filipe é enfermeiro e em alguns hospitais os pacientes usam
uma pulseira colorida, que identifica o tipo de atendimento que deve ser
dado pelo profissional de saúde.
ATENDIMENTO
“A maior dificuldade que sinto é no
trabalho, quando o atendimento é dividido por cor. No caso de um
hospital, o grau de emergência é identificado pelas cores azul, branco,
verde e amarelo. Muitas vezes confundo as cores, as tonalidades. Aí
preciso pedir ajuda”, revela. Na maioria das vezes, Filipe conta com a
solidariedade e a boa vontade dos colegas de trabalho e do próprio
paciente, já que, por enquanto, a diferenciação por cor é a única
alternativa encontrada pelos hospitais para identificar as pulseiras.
Segundo
o oftalmologista e vice-presidente do Departamento de Oftalmologia da
Associação Médica de Minas Gerais, Luiz Carlos Molinari, não existe, de
fato, qualquer tipo de política pública de saúde ou educação no Brasil
para a discromatopsia ou daltonismo. Para o médico, o defeito pode ter
implicações diretas no processo de ensino-aprendizagem e, por isso,
espera-se que professores do ensino fundamental sejam capacitados para
identificar prováveis alunos com defeito de visão cromática. Estudo
publicado na revista Physis, em 2014, mostrou relatos de desconforto,
vergonha e ansiedade no ambiente escolar por parte de portadores de
discromatopsia.
Recentemente, a apresentadora Ana Furtado disse, em um programa de
entrevistas, que na escola tomou “muita bomba nos desenhos e nas aulas
de geografia”. Ela relatou que, até descobrir o daltonismo, tinha de
ouvir das pessoas que “sofria de doença psicológica”. “Quando era
pequena, coloria a maçã de rosa, a folha de marrom, o caule de verde, e
diziam que eu tinha problema psicológico. Por acaso, descobri (o
daltonismo) em uma visita ao oftalmologista”, conta. Para Luiz Carlos
Molinari, a falta de preparo dos professores pode gerar situações
vexatórias, assim como ocorreu com a apresentadora na infância. Para
agravar o quadro, Ana faz parte de uma população ainda mais restrita, já
que o daltonismo acomete cerca de 0,4% a 0,7% de todas as mulheres do
mundo, enquanto nos homens o índice da condição é de 8%.
Ausência de cones na retina
Discromatopsia
é um termo usado para designar qualquer tipo de defeito de visão de
cores. A expressão daltonismo é popularmente usada como sinônimo de
discromatopsia, em referência ao químico John Dalton, o primeiro
cientista a estudar a anomalia de que ele mesmo era portador. Dalton
tinha protanopia, quando há ausência na retina de cones vermelhos. Há
ainda a deuteranopia (ausência de cones verdes) e a tritanopia (ausência
de cones azuis). O que ocorre nos três tipos, geralmente, não é uma
deficiência total. O coordenador de projetos sociais e direitos humanos,
Fernando Gentil, de 25 anos, tem daltonismo leve, nunca diagnosticado
por um oftalmologista, mas diz que, desde que se entende por gente, tem
dificuldade em identificar cores. Apesar disso, diz sofrer pouco com o
problema.
“Quando tenho que criar uma arte de um convite ou banner, às vezes a
escolha de cores não fica legal. Na combinação de roupas também, mas
nunca confundi as luzes do semáforo, por exemplo. Então, não são coisas
muito graves ou problemáticas. É algo que você resolve rapidamente
pedindo a opinião de outrém”, explica. O bancário Wilkins Delmaschio, de
50, também mistura algumas tonalidades, mas não acha que o problema
interfira muito em sua vida. “O meu grau é baixo. Confundo as cores de
tom para tom. Como cinza com verde, roxo com marinho, verde com
marrom...”, diz.
TESTE
Independentemente do
grau e do tipo de daltonismo, a indicação dos oftalmologistas é que o
problema seja identificado ainda na infância, a fim de que o portador
entenda, desde cedo, sua dificuldade e crie os próprios meios para
conviver com a condição. Um dos testes mais comuns utilizados para fazer
o diagnóstico do daltonismo é o de Ishihara, que consiste numa
sequência de cartões com ruído de fundo, em múltiplas tonalidades,
dentro das quais há uma figura, normalmente uma letra ou algarismo,
facilmente reconhecido por uma pessoa normal, mas não por um daltônico.
Atualmente, não existe nenhum tipo de tratamento para o daltonismo."
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