26 março 2011

O Porãozinho

O livro "A Estrada" do Cormac McCarthy é minha primeira ideia quando penso em um porão, a analogia talvez seja ótima com a teoria que desenvolvi ao longo dos anos. No livro do McCarthy o porão é um lugar em que nenhum ser humano desejaria estar, é um lugar escuro, com muitas pessoas sendo comidas vivas. É um livro apocalíptico, a humanidade está no fim, já não existem alimentos e aparece então o canibalismo, humanos saem a caça de seus semelhantes. Nesse porão estão algumas pessoas aos pedaços, em uma das cenas mais pesadas do livro. É impossível sair desse livro com qualquer tipo de esperança. É desse ponto que desejo falar sobre o porão, ou a teoria do porãozinho.

O porão é bem simples, gostamos de estar em relacionamentos, mas, ao mesmo tempo, quando não estamos em um, gostamos de ter alguém a quem chamar em dias ruins, em dias que precisamos fazer alguma coisa e não conseguimos convidar quem gostaríamos. Essas pessoas estão por aí, em suas agendas, em suas redes sociais preferidas. É humano manter alguém afastado e ir atrás quando se sente necessidade.

Existem muitas pessoas metidas em porões de outras, a lógica é simples, mulheres adoram fazer isso, mantenha a ilusão de um relacionamento com alguém e deixe essa pessoa por perto, trancada nesse porão, às vezes você aparece, deixa entrar um pouco de luz com alguns sorrisos ou elogios, isso manterá essa pessoa por mais algum tempo ali.

Você consegue cultivar algumas pessoas em seu porão, mas, ao mesmo tempo, você também está no porão de alguém, é um jogo de cartas marcadas que muitos fingem não notar. Um sms por semana já é suficiente para manter toda uma ilusão. No porãozinho estão todas aquelas pessoas que ouviram a frase: “Vamos dar um tempo!” Essa é uma das frases pré-porão. É praticamente o purgatório dos relacionamentos, não chega a ser o inferno e está longe do céu. Imagine que algumas pessoas jamais chegarão nem ao porão de outras, essas sim estão no inferno, brigando constantemente e sendo singelamente ignoradas. Você, às vezes, sai do porão, respira um pouco, diverte-se um pouco, mas logo é trancafiado por lá novamente, é clássico.

No porão não há muito que fazer além de esperar. Você pode rebelar-se, é justo, mas as trancas são fortes, pode sair na base da força, mas não sairá pelo lugar em que entrou, será uma saída lateral e você jamais encontrará o mesmo porão.

A pior parte é que você nem sempre estará sozinho no porão de alguém, terá de aprender a dividir espaço, por isso alguns irão rebelar-se. Essa é a analogia com o livro “A Estrada”, muitas pessoas num mesmo espaço, almejando um mesmo bem e tendo apenas lamentações como companheiras, essas sim fiéis.

Isso é o porãozinho, muitos querendo seu espaço ao sol. Você está ou já esteve no porão de alguém. Um conselho? Leve seus livros, seu computador e suas músicas preferidas para o porão, o tempo será menos cruel.

2 comentários:

Eu disse...

espero não estar no porão de ninguém, mas acho que estou, droga! me odeio...

Marcelo disse...

Em um tenho certeza que estou.