25 outubro 2009

Um milhão de pedacinhos

A biblioteca da universidade possui um bom acervo de títulos de literatura, às vezes não quero ler um autor conhecido ou livros que já tenha ouvido falar, então procuro nas seções qualquer coisa que me chame a atenção. Há uma frase que diz que não somos nós que escolhemos os livros, que é justamente o contrário. Com essa aleatoriedade acabei por pegar o livro Um milhão de pedacinhos, do James Frey. Lendo a orelha e a contra-capa descobri que era um livro sobre como foram os dias de um dependente químico de 23 anos, com danos "quase irreversíveis ao seu corpo e mente", em uma clínica de desintoxicação. Não é um livro de auto-ajuda, James Frey não conta uma história, ele conta a sua história, conta a sua vida e como passou algumas semanas sofrendo sem álcool e crack. As figuras que ele encontra nessa clínica são surreais, vão desde um juiz, passando por um ex-campeão mundial de boxe e um conhecido "gângster". Ao fim do livro o narrador nos conta como foi a vida de cada uma dessas pessoas que ele encontra na clínica após seu período de reabilitação, é tudo de uma tragicidade enorme. Segundo dados, apenas 17% dos viciados conseguem se recuperar, convenhamos que é um número muito baixo.
"Assisti a um estúpido vídeo sobre um juiz e me disseram que me ajudaria a melhorar. Vomitei, assim como todo santo dia, e não estou melhorando. Tenho 23 anos, sou alcoólatra há uma década e um viciado e criminoso durante quase o mesmo tempo, sou procurado em três estados, estou num hospital no meio de Minnesota, e quero beber, quero usar umas drogas e não consigo me controlar. Tenho 23. Respiro, estremeço e sinto chegando, e a raiva, a necessidade, a confusão, o arrependimento, o horror, a vergonha e o ódio se fundem em uma fúria perfeita, uma grande, bela, terrrível e perfeita fúria, a fúria, e não consigo parar ou controlar a fúria, só posso deixar que a fúria venha venha venha venha venha."
Um milhão de pedacinhos causou o mesmo efeito que O demônio do meio-dia, do Andrew Solomon, já havia causado em mim, a diferença é que um narra todos os problemas de um universo que desconhecia, do efeito do álcool e das drogas nas pessoas, da dificuldade em abandonar o vício e de como isso afeta suas relações com familiares e amigos, e o outro faz um relato abrangente sobre a depressão.

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