18 abril 2008

Frases do que ando lendo

Amós Oz, De Amor e Trevas

Você sabe que está diante de um grande livro ao ler o primeiro parágrafo. Ao completar as mais de 500 páginas de "De Amor e Trevas", descobri coisas demais, sublinhei quase metade das páginas do livro, enchi de anotações e só me senti bem quando terminei a leitura. O livro é uma auto-biografia do Amós Oz, narra toda a "criação" de Israel, os conflitos com os árabes e todos os problemas daquela região; acima de tudo, a narrativa fica sempre focando a mãe do Amós Oz, até seu suicídio. Eu já disse para uma amiga que não gostaria de viver num mundo em que mães se matam. Realmente fiquei emocionado com o livro, desde o "Terra Vermelha", do Domingos Pellegrini, que eu não era "assaltado" dessa forma, assaltado no bom sentido. Amós Oz é um dos grandes escritores vivos, quem sabe não ganha um Nobel.

"Havia um sentimento de que as pessoas vão e vêm, nascem e morrem, mas os livros são eternos. Quando eu era pequeno, queria ser livro quando crescesse. Não escritor de livros, mas livro mesmo. Gente se pode matar como formigas. Escritores também não são tão difíceis de matar. Mas livros, mesmo se os destruimos metodicamente, sempre há chance de sobrar algum, nem que seja apenas um exemplar, a continuar sua vida de prateleira, eterna, discreta e silenciosa em uma estante esquecida de alguma biblioteca remota."

"A solidão é como o golpe de um martelo pesado - o vidro, rompe em cacos, o aço, torna mais rijo."

"O mau leitor vem me pedir para que eu descasque especialmente para ele o livro que escrevi. Exige que jogue minhas uvas no lixo com minhas próprias mãos, e lhe sirva apenas os caroços.
Quem procura a essência de um conto que fica entre a obra e o seu autor comete um erro: é muito melhor procurar não no terreno que fica entre o escritor e sua obra, mas justamente no que fica entre o texto e seu leitor."

"Um ser humano é apenas um ser humano."

"O amor é uma mistura estranha de uma coisa com o seu contrário, a mistura do egoísmo mais egoísta com a mais completa devoção."

"Nunca, nunca se poderá endireitar a vida das pessoas com base no que se lê num livro! Em nenhum livro!"

"Nosso pesadelo era que um belo dia os padres começassem a atiçar seus fiéis de dentro das igrejas, a dizer que o sangue de Jesus corria de novo por culpa dos judeus, e começassem a tocar aqueles seus sinos aterradores, os camponeses iriam então se encher de aguardente, empunhar seus machados e suas foices, era assim que sempre começava."

"Pensávamos que logo mais, em alguns poucos anos, os judeus já seriam maioria em Israel, e então mostraríamos ao mundo inteiro como nos portamos de maneira exemplar com os árabes, a nossa minoria; nós, que sempre fomos a minoria oprimida, sufocada, trataríamos a minoria árabe com retidão e justiça, com generosidade compartilharíamos com eles a nossa pátria, devidiríamos tudo, de jeito nenhum iríamos transformá-los em gatos aduladores. Sonhamos um sonho bonito.
Me sinto só e desolada no meu mundinho tão pequeno e estreito..."

"Se minha mãe tinha me abandonado dessa maneira, sem olhar para trás, então era um claro sinal de que nunca tinha me amado: quando se ama, assim ela própria tinha me ensinado, quando se ama, tudo é perdoado, menos a traição. Os aborrecimentos são perdoados, e também o boné perdido, e também as abobrinhas que sobraram no prato."

"Para escrever um romance de oitenta mil palavras é preciso tomar no decurso do progresso algo como um quarto de milhão de decisões."

"(...) embora os livros possam mudar ao longo dos anos, assim como as pessoas, a diferença está em que, enquanto as pessoas sempre nos abandonam quando percebem que não podem obter nenhuma vantagem, prazer, interesse ou pelo menos um bom momento de nós, um livro nunca vai nos abandonar."

"Falar é prata, calar é ouro. Não há nenhum sentido em dizer palavras vãs."

"O ar estava saturado de terror, e talvez eu já tivesse compreendido o quanto era fácil matar pessoas."

"será que não tenho um pingo de personalidade? Por que é que todo mundo pode me induzir a fazer qualquer coisa? Uma semana depois eu já havia esquecido tudo."

"Eu nunca vou ser escritor, nem poeta, nem literato. De jeito nenhum, pois não tenho sentimentos. Os sentimentos me enojam. Vou ser agricultor, vou viver no Kibutz. Ou quem sabe vou ser envenenador de cachorros. Com uma injeção cheia de arsênico."

"A morte de todos os adultos me insinuou uma idéia fascinante, secreta e decisiva. E assim, aos catorze anos e meio, dois anos após a morte de minha mãe, matei meu pai e toda a Jerusalém, troquei o meu sobrenome e fui sozinho para o Kibutz Hulda para viver, também eu, sobre ruínas."

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